domingo, 18 de abril de 2010

Preço Alto Demais




O problema do plástico, como o de outros poluentes, é o seu custo em termos de vida. Gigantescas tartarugas-do-mar confundem sacos de lixo flutuantes com as translúcidas e ondulantes medusas — um dos seus pratos favoritos. As tartarugas ou ficam sufocadas com os sacos, ou os engolem inteiros. De qualquer modo, o plástico as mata.

Todos os tipos de vida marinha, das baleias aos golfinhos e focas, ficam enredados em linhas e redes de pesca descartadas. As focas brincalhonas metem o focinho em anéis abandonados de plástico e então, sendo incapazes de retirá-los, ou de sequer abrir a boca, vêm lentamente a morrer de fome. As aves marinhas ficam enredadas nas linhas de pescar e freneticamente se debatem nelas até morrer, ao tentarem soltar-se, e não se trata de casos isolados. O lixo sufoca cerca de um milhão de aves marinhas e cem mil mamíferos marinhos por ano.

A poluição química também contribui com seu quinhão para o tributo de mortes. No verão setentrional passado, focas mortas começaram a dar nas praias do mar do Norte. Em questão de meses, cerca de 12.000 das 18.000 focas das baías do mar do Norte foram exterminadas. O que as matou? Um vírus. Mas há algo mais envolvido. Os bilhões de litros de resíduos regularmente despejados no mar do Norte e no Báltico também desempenharam uma parte, enfraquecendo o sistema imunológico das focas, e contribuindo para tal doença espalhar-se.

Ao passo que a poluição concentra-se especialmente no mar Báltico e no mar do Norte, nos dias atuais um animal teria muita dificuldade em encontrar uma faixa de oceano que não estivesse poluída. Nos longínquos lugares do Ártico e da Antártida, os pingüins, os narvais, os ursos-polares, os peixes e as focas apresentam todos, nos tecidos do corpo, vestígios das substâncias químicas e pesticidas produzidos pelo homem. As carcaças das belugas ou baleias-brancas no golfo de São Lourenço, no Canadá, são consideradas resíduos perigosos, por estarem tão carregadas de toxinas. Na costa atlântica dos Estados Unidos, cerca de 40 por cento dos golfinhos da área morreram em apenas um ano, dando às praias com furúnculos, lesões, e com retalhos de pele se soltando.

Obstruindo um Mecanismo Delicado

A poluição oceânica também sofre outra penalidade. Ela causa uma obstrução mortal a complexos ecossistemas, com resultados aterrorizantes. Por exemplo, os oceanos foram projetados com mecanismos de defesa contra a sujeira. Os estuários e os manguezais na foz dos rios são filtros eficazes, removendo da água as substâncias prejudiciais, antes que ela deságue no mar. O próprio oceano possui tremenda capacidade de renovar-se e de purificar-se das impurezas. O homem, porém, está aterrando os manguezais, sobrecarregando os estuários, e, ao mesmo tempo, lançando resíduos nos oceanos, mais rápido do que estes conseguem absorvê-los.

À medida que os esgotos sanitários e a água das plantações agrícolas correm desimpedidos para os mares, isso superalimenta as algas, que então resultam nas marés vermelhas e marrons, que exaurem o oxigênio da água e matam a vida marinha por quilômetros ao redor. Tais marés estão aumentando em todo o mundo.

O homem tem até mesmo causado poluição de modos jamais dantes imaginados. Por exemplo, existe a poluição térmica. O influxo de resíduos quentes que eleve ainda que ligeiramente a temperatura da água local pode proporcionar o crescimento de organismos que transtornam o ecossistema.

Há também a poluição sonora. De acordo com The New York Times, o homem abalou a quietude do mundo submarino com suas explosões realizadas para estudos sísmicos, com suas perfurações em busca de petróleo, e com seus maciços navios. Os ruídos causam danos aos sensíveis órgãos auditivos dos peixes, das baleias e das focas — talvez até mesmo prejudicando sua capacidade de comunicar-se uns com os outros. O livro Cosmos, de Carl Sagan, afirma que é possível que outrora as baleias pudessem ouvir os sons de baixa-freqüência umas das outras através de milhares de quilômetros do oceano, numa distância tão grande como a entre o Alasca e a Antártida. Sagan calcula que o advento da interferência do ruído humano reduziu tal distância a algumas centenas de quilômetros. “Bloqueamos as baleias”, lamenta ele.

Os oceanos também ilustram quão interligadas se têm tornado as crises de poluição. Por exemplo, devido aos danos causados pelo homem à camada de ozônio da atmosfera da Terra, mais raios ultravioleta atingem os mares e destroem o plâncton que flutua próximo à superfície. Visto que o plâncton absorve o bióxido de carbono, destruí-lo contribui para o aquecimento global conhecido como efeito estufa. Até a chuva ácida entra no quadro, à medida que lança o nitrogênio produzido pelo homem nas águas do mundo, talvez estimulando mortíferos surtos de crescimento de algas. Que teia emaranhada e perigosa o homem tem tecido!

Mas, é o quadro completamente sem esperança? O que acontecerá com nossos oceanos? Estão todos condenados a degenerar-se em charcos sem vida de substâncias químicas e lixo?

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